Assembleia virtual faz crescer quórum de moradores na pandemia
Especial para o Estado
Desde que a Lei 14.010/2020 autorizou, em caráter emergencial, que as reuniões de condomínios ocorram em ambiente virtual até 30 de outubro, síndicos e administradoras tiveram que correr para colocar a ideia em prática. No geral, a mudança foi bem aceita pelos condôminos e cresceu a participação de moradores nas reuniões. Agora, o desafio é acelerar o processo de alfabetização digital para que todos consigam lidar com a tecnologia, principalmente os idosos.
Com mais de mil assembleias virtuais realizadas desde o início da quarentena, a Lello condomínios registrou participação de 60% dos moradores, representando o dobro das versões presenciais de 2019, que contaram com média de 30% de adesão.
Segundo a gerente de relações com o cliente, Angélica Arbex, migrar para o online já era um caminho que pretendiam trilhar.
Faz um ano que estávamos redesenhando o formato porque não dava mais para as assembleias seguirem o mesmo modelo de 40 anos atrás. Estamos desmistificando a questão com um conjunto de comunicação que realmente busca fazer a inclusão digital.
Para que a assembleia possa acontecer, a premissa é que todos os condôminos sejam comunicados e tenham o direito de participar. Por isso, foi incluído também um botão me ajude na sala de assembleia virtual e uma equipe fica de prontidão para auxiliar no passo a passo. Outra possibilidade é a pessoa participar da reunião por telefone, ligando para um número específico que a insere na sala da plataforma Zoom por voz.
Entre as vantagens do novo formato, a executiva da Lello cita o tempo de duração da reunião e a objetividade. A sala da assembleia virtual fica aberta por até dois dias para análise da pauta e voto, mas o tradicional papo de salão de festas, que podia durar até 5 horas, chega no máximo a 1h30 no formato online e sem estardalhaço. “Quem quer falar levanta a mão e o organizador abre o microfone, cada um de uma vez”, conta.
Raquel Bettoi, de 76 anos, é síndica de um prédio com 124 unidades na Mooca, zona leste de São Paulo, e realizou a primeira assembleia virtual durante a pandemia. Foto: Alex Silva/Estadão
Para auxiliar na mudança para o virtual, a AABIC (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e condomínios de São Paulo) criou um protocolo de orientações. Um dos pontos destacados é a necessidade de contar com empresas de tecnologia e desenvolvedores de software que garantam sistemas seguros, com soluções antifraude capazes de comprovar a presença e fazer a contagem dos votos de forma transparente e idônea.
O presidente da associação, José Roberto Graiche Júnior, lembra no entanto que a assembleia presencial não está proibida e ainda é uma opção para condomínios que não conseguiram se adaptar.
Dependendo do perfil, alguns empreendimentos seguem com o formato presencial e precisam obedecer aos protocolos de segurança e sanitários, como fazer a demarcação de assentos, o uso de máscara de proteção, disponibilizar álcool em gel, escolher um local ventilado ou até aberto e reduzir o número de itens de discussão da assembleia para que o encontro seja o mais rápido possível, explica.
O quórum dos idosos nas reuniões virtuais
Síndico de um prédio no Jardim Paulistano (zona oeste de São Paulo), o advogado João Carlos Pinheiro, de 51 anos, realizou a primeira assembleia virtual na última segunda-feira, 17. A adesão não foi a mesma do que nas presenciais. Muitos dos idosos que costumavam bater carteirinha não participaram alguns porque não quiseram, outros porque ainda têm dificuldade para lidar com a digitalização.
Eu mesmo recorri à ajuda da administradora para entender melhor o sistema, conta o advogado. Estamos aprendendo o be-a-bá ainda, mas a tendência é que as pessoas comecem a se familiarizar mais com a tecnologia daqui para a frente.
Para ele, um dos benefícios do modelo virtual é que a assembleia abre de manhã e segue ao longo do dia, dando aos moradores a liberdade de votar quando preferirem. O ritmo do debate ao vivo também fluiu melhor do que nas presenciais, que têm discussões mais acaloradas, afirma.
Em um primeiro momento, a ideia de realizar a assembleia virtualmente assustou a aposentada Raquel Bettoi, de 76 anos, síndica de um prédio com 124 unidades, 24 entradas e 10 mil metros quadrados de área localizado na Mooca (zona leste). O fato de metade dos moradores serem idosos pareceu um complicador.
Minha geração tem um pouco de resistência a tudo que é virtual, um tipo de bloqueio, diz a síndica, que precisou encarar o desafio por conta da função. Com ajuda das filhas e da administradora, ela fala que foi criando coragem. Comecei a me entrosar, a aprender, a sofrer, mas agora já sou craque, brinca.
No caso dos condôminos, a história ainda é outra. Muitos são radicais e não aceitam nem receber boleto por e-mail, relata. Mesmo assim, a primeira assembleia virtual da temporada teve adesão acima da expectativa. O pessoal foi aceitando, mesmo que ainda reclame muito. Ela conta que a próxima reunião também será virtual, pois não quer colocar os idosos do prédio em risco. Aqui só estou deixando abrir para pequenas reformas, bem pontuais, e as áreas de lazer continuam fechadas, diz.
Plataforma ajuda nas assembleias
Especializado no desenvolvimento de sistemas e soluções para gestão imobiliária, o Superapp COM21, da holding mineira Group Software, registrou crescimento de 1.000% na adesão à assembleia online desde que foi decretado o isolamento social.
O aplicativo oferece ferramentas como integração nativa com o financeiro para gerenciar a liberação de votos, lista de presença eletrônica para auditoria dos dados e registro em cartório e notificação em tempo real de cada decisão tomada.
Apesar do DNA digital, a empresa incluiu entre as soluções cédulas de voto impresso caso algum condômino prefira o meio tradicional. Tomar a decisão de fazer uma assembleia online, no primeiro momento, já é algo que pode ser interpretado como imposição aos condôminos e causar desconforto, afirma Danilo Frota, diretor do Superapp COM21.
Segundo ele, a ideia segue o mesmo princípio do voto em urnas eleitorais eletrônicas, que é feito em cédula de papel caso o equipamento falhe.
Eu posso imprimir minha própria cédula ou solicitar ao síndico ou administradora, explica. O aplicativo também permite que o morador tenha acesso à videoconferência por telefone, para que possa se posicionar perante as questões colocadas em pauta.
Com uma escolha democrática sobre como participar, temos contribuído para que o quórum aumente e as pessoas tenham mais consciência sobre a política de seu condomínio, comemora o executivo.
A Lello é a maior administradora da vida em comum no Brasil, responsável pela gestão de cerca de mais de três mil empreendimentos na Capital paulista, ABC, Campinas, Jundiaí, Piracicaba e no litoral do Estado. Existem hoje cerca de um milhão de pessoas que vivem em locais administrados pela Lello. Sempre a procura de como a tecnologia pode melhorar e facilitar a vida em comum, a Lello tem uma séria de iniciativas pioneiras que está alterando a forma como as pessoas enxergam suas comunidades.